segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Vila e o Mito da Caverna

As mesmas questões são abordadas no Filme e no Mito, sendo que uma das principais gira em torno da idéia de alienação coletiva de uma determinada comunidade/sociedade, que ao longo de gerações permanece sem entrar em contato com o exterior, de forma que um aprisionamento é instaurado, seja de forma direta como na caverna onde são acorrentados e condicionados a olhar apenas para frente, ou de forma indireta como na vila, onde os habitantes são condicionados a permanecer por lá.

No filme os habitantes são levados a acreditar em criaturas malignas da floresta, e por esse motivos é perigoso e arriscado sair da vila. Além das criaturas, na cultura deles é ensinado que as cidades são povoadas por pessoas corrompidas por um certo mal social, e que não haveria nenhuma vantagem em deixar a vila. Na caverna os habitantes estão aprisionados e condicionados, sem ao menos saber da proporção ou das formas reais em que o mundo lá de fora se sustenta, eles veriam apenas as sombras dos objetos. A alienação que existe na caverna, talvez seja de um nível ainda pior do que na vila, pois seu aprisionamento é imposto por correntes físicas, e na vila é imposto de maneira inconsciente, pois são criados mecanismos psicológicos para aprisionar seus habitantes.

Comparando a personagem "Ive" da "Vila" com o prisioneiro libertado de Platão encontraríamos o ponto em comum entre eles, a cegueira. De certa forma, também há uma grande diferença, um detalhe. O personagem de Platão as sair da caverna fica completamente cego com a luz do sol, e Ive ao deixar a Vila para buscar socorro, já é cega, pois nasce assim. Na caverna o personagem quando retorna não se adapta a escuridão e Ive quando retorna para a Vila, descobre uma outra realidade que qualquer pessoa que enxergasse em sua Vila jamais poderia ter.

A grande ironia do Filme foi mostrar que não há como como escapar das fatalidades de um crime, mesmo alheio a cidade. Mesmo nascendo na vila e criado alheio a corrupção, um dos habitantes comete um crime passional, e destrói toda a tese que sustentava as crenças daquela comunidade. Da mesma maneira que o prisioneiro da caverna retorna e não se adapta a escuridão, Ive retorna com a certeza de que agora ela enxerga muito mais do que seus olhos puderam ver, mais ainda do que os olhos de seus companheiros, pais, irmãos e parentes da Vila.

Esse reconhecimento da percepção vai além dos sentidos humanos, e no que diz respeito do que se determina como sendo certo ou errado. Sendo o reconhecimento de dentro para fora (como no caso caverna) ou de fora para dentro (como na vila), o produto crime perpetuou. Assim como a maioria dos sentimentos de natureza humana, sendo de culturas diferentes, o que vai mudar é o ponto de vista do observador, o ângulo, e não sua natureza.

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