segunda-feira, 11 de abril de 2011

Resenha relacionando o "Mito da Caverna" de Platão ao filme "A Vila", por Ioná Ricobello

Um mito da Filosofia, o Mito da Caverna, narrado por Platão em A República, é transposto para uma narrativa cinematográfica contemporânea. Essa transposição está fortemente ligada à tese e à crítica de Platão de como de encontra a condição humana.

O filme em questão foi lançado em 2004, pelo jovem indiano M. Night Shaymalan, levando o nome de A Vila (The Village). Com uma atmosfera de aspecto antigo, cidade de época, passa uma sensação de simplicidade, que também acompanha sua sinopse. A vila na qual os personagens do filme moram é, a princípio, um lugar calmo, tranqüilo, de harmonia e perfeito para se viver, porém, atormentada por seres estranhos que impedem os moradores de atravessarem a floresta. Portanto, esse tal medo do desconhecido, a qual chama de "Aqueles que não podemos falar", é o que faz com que as pessoas permaneçam na vila, deixa-os sem coragem de atravessar a floresta.

Assim, a narrativa do filme gira em torno da seguinte situação: os habitantes vivem na vila, sabendo que há algo exterior à ela advindo da floresta que os causa medo, fazendo com que continuem aprisionados na vila. Relacionando com a narrativa platônica, há semelhanças que não são meras coincidências, pois nela trata-se de homens que estão voltados para o fundo de uma caverna, presos a grilhões que os impossibilitam de olhar para a abertura da mesma e ver a luz que vem de fora, e então apreciam as sombras, que vêem como realidade. O mito indica a ignorância do homem, faltando-lhe o conhecimento, possuidor de uma percepção de realidade restrita e irreal, equivocada.

Em ambas as narrativas há limtes geográficos, na platônica configurando-se pela caverna sombria e no filme representados pela vila, cercada pela floresta. No filme, os "cadeados e grilhões", que também estão presentes no texto, são afrouxados ao passo que Lucius Hunt se sente instigado a conhecer a floresta, porém é impedido pelos anciões que governam a vila. Eis que Lucius sofre uma tentativa de homicídio e sua futura esposa, Ivy, uma deficiente visual, decide se arriscar na floresta em busca de remédios para salvar a vida dele. O romance aparece como um pretexto para que a personagem se encoraje a ultrapassar os limites impostos e, então, atravessar a linha entre ignorância e conhecimento.

Sob o olhar platônico, a caminhada que vai da libertação dos grilhões do mundo visível, passando pela descoberta da verdade e resultando na busca e no encontro do conhecimento, da luz, na parte de fora da caverna, é longa e dolorosa. Ele afirma que a luz solar ofusca os olhos do homem, devido à desconstrução da realidade que ele conhecera durante muito tempo, porém, após o impacto inicial, o olhar humano se abre à diversas novas imagens, objetos e outras coisas antes não conhecidas. Ivy também encontra seus obstáculos quando decide enfrentar a floresta, tais como chuva, armadilhas, muro, assim como os obstáculos até a saída da caverna, encontrados no mito. Até mesmo a cegueira de Ivy pode ser relacionada à ignorância e falta de conhecimento às quais Platão se refere.

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