sábado, 9 de abril de 2011

Resenha crítica sobre o filme “A Vila” com base no texto “A República” de Platão, por Isadora Mann

O filme “A Vila”, filmado em 2004, é uma trama de suspense que conta a história de um pequeno povo isolado do mundo em uma espécie de aldeia, onde reside também um pacto: o povo da cidade não entra na floresta e as criaturas não entram na vila, pois há muito tempo, alguns habitantes da cidade resolveram abandonar a metrópole e sua vida, segundo eles perigosa, e levar uma vida tranqüila na aldeia construída por eles. Uma comissão, formada por pessoas mais velhas, possui um segredo: para manter as pessoas na aldeia, inventaram uma história de que há criaturas do mal que rondam a floresta e que por causa disso, ninguém deve deixar a aldeia. Até que a vida de um dos moradores passa a depender de remédios que não existem na vila, mas sim lá fora. Por amor, uma mulher cega resolve atravessar a floresta e ir até a cidade em busca de medicamentos e aí a história se desenrola, juntamente com algumas verdades sendo reveladas.

O capítulo VII de “A República”, de Platão, fala sobre O Mito da Caverna. Platão imagina um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Eles ficam de costas para a entrada e presos de forma que não consigam virar a cabeça para ver o que há por trás e nem ao redor deles, sendo assim forçados a olhar apenas para a parede da caverna. Porém, devido a uma fogueira acesa, esses humanos conseguem ver sombras de outros homens projetadas na parede e, juntamente com os ecos dos sons que vêm de fora, os prisioneiros pensam que esses sons são as falas das sombras. E para eles, essas sombras são a verdade, a realidade. Platão imagina também que um desses prisioneiros consegue se libertar, escalar o muro e sair da caverna, se deparando com todo um mundo novo. Segundo Platão, se esse homem decidir voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, ele poderá correr sérios riscos. Desde ser ignorado até ser dado como louco e mentiroso e dessa forma, morto pelos prisioneiros.

Coincidência ou não, o filme acaba sendo uma versão da Caverna, criada por Platão. A vila seria a caverna e seus habitantes seriam os prisioneiros da mesma. Em vez de correntes aprisionando-os, seriam as idéias e toda a história inventada pela comissão (deixando claro que as criaturas eram na verdade alguns poucos moradores da vila disfarçados). Em ambos os casos, as pessoas estão presas em um mundo que na verdade é enganoso, é falso. Essas pessoas estão sendo ludibriadas, acorrentadas a uma falsa realidade e vivendo em uma eterna ilusão. Tanto os prisioneiros da caverna como os habitantes da vila são acorrentados a preconceitos (ou a pré-conceitos), a idéias enganosas e a falsas crenças, mesmo sem conhecer o mundo lá fora. O prisioneiro que conseguiu sair da caverna equipara-se a mulher que resolveu sair da vila. Platão não disse se o prisioneiro voltou à caverna para contar as boas novas aos seus antigos companheiros e o filme não mostrou se a mulher contou aos seus vizinhos sobre o que tinha encontrado ou se eles próprios resolveram fazer o mesmo que ela e conhecer um mundo totalmente novo. Tanto o filósofo quanto o diretor deixaram para as pessoas a incumbência de imaginar o que aconteceria a seguir.

3 comentários:

  1. "acorrentadas a uma falsa realidade e vivendo em uma eterna ilusão."

    Falsa realidade?
    Mas aquela não seria a realidade de quem mora na vila e não sabe do mundo que existe depois da floresta? Há vida, construção de laços e afetos dentro da vila, que são verdades para quem não conheceu uma outra realidade.

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  2. "acorrentadas a uma falsa realidade e vivendo em uma eterna ilusão."

    Falsa realidade?
    Mas aquela não seria a realidade de quem mora na vila e não sabe do mundo que existe depois da floresta? Há vida, construção de laços e afetos dentro da vila, que são verdades para quem não conheceu uma outra realidade.

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