sábado, 23 de abril de 2011

Obrigado por argumentar




A argumentação tem como objetivo, provocar ou aumentar a adesão dos ouvintes às teses que se apresentam. Esse é o mecanismo dominado por Nick Naylor em Obrigado por fumar.
Membro como mesmo denomina MOD Squad, pois é porta-voz da indústria do tabaco, utiliza de tal método para fazer valer sua opinião. Apenas dizer e rebater críticas, não basta se não souber como persuadir e convencer seu auditório/público.
A diferença entre persuadir e convencer, de acordo com Perelman e Tyteca, é que o primeiro se vale para um auditório particular e o segundo para todos aqueles que são racionais. É certo que um limite claramente delineado não pode ser assegurado e na prática não se mostra necessário.
As duas são administradas pelo seu orador, pois é necessário uma adaptação aos ouvintes. Esses podem ser classificados de diversas maneiras, por exemplo: heterogêneo, particular, universal, de elite, etc. No entanto, são fundamentais para a eficácia da argumentação. No filme, podemos observar essa preocupação, que fica explicitamente afirmada no diálogo entre pai e filho, onde o pai alega que importa mais convencer um grupo do que aquele com quem se propôs debater.
Nesse ponto, cabe ressaltar que um orador “apaixonado” não saberia argumentar com eficiência, por estar cego por suas ideias e não enxergar os outros. Isso deixa vago a veracidade da argumentação que deve por princípio seguir uma lógica. E temos no filme como exemplo disso, a cena onde um opositor do personagem principal questiona ele, na figura de pai, se deixaria o filho fumar quando fizesse 18 anos. Já que o pai diz que os homens são independentes a partir dessa idade, podendo decidir o que devem fazer com suas vidas. Nesse ponto, poderíamos dizer que há uma fuga da lógica e uma falha na argumentação, ainda que seja justa a alegação.
Para além da adaptação ao público, o carisma, confiança e outras questões mais subjetivas atravessam o discurso. Buscamos agira com razão e imparcialidade em nossos discursos, mas não podemos excluir essas nuances. Uma forma de demonstrar essa ligação são as discussões diárias que são oportunidades de praticar a argumentação. Nas cenas de interação entre mãe/filho, aluno/professor e aluno/colegas de classe, vemos tentativas de aperfeiçoamento.
Quanto ao lugar de fala, não podemos dizer que nos encontramos em posição de igualdade, pois no simples discurso há uma hierarquização do sujeito. Isso confere aos que estão em posição mais elevada, maior confiabilidade, pelo “poder de verdade”. Normalmente, é preciso alguma qualidade para tomar a palavra e ser ouvido. (Perelman-Tyteca, p.21)
Dessa forma, podemos afirmas que Nick Naylor tem sucesso em suas argumentações, pois passa por uma deliberação interna; articula e se adapta ao seu público e sabe fazer valer sua posição no sistema de poder. Porém, há elementos que fogem da lógica pura, pois o homem busca esse ideal, ainda que por vezes a abordagem menos lógica se torne mais eficaz.

Mayara Caetano

Nenhum comentário:

Postar um comentário