segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Obrigado por fumar" por "Tratado da Argumentação"


Assim que se começa a ler a introdução do texto “Tratado da Argumentação”, de Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, já é possível encontrar várias citações onde o filme “Obrigado por fumar” é lembrado. No longa, a idéia de que é necessário colocar sinais de veneno nos maços de cigarro é tratado como evidência. Uma evidência contra a qual Nick Naylor tenta lutar. Mas, quando lemos o texto, percebemos que esta idéia que se tem do cigarro pode não ser tão evidente. Há um trecho em que os autores afirmam “... pois não se delibera quando a solução é necessária e não se argumenta contra a evidência”. Pode-se, portanto, chegar à conclusão de que, como há argumentação, a evidência não existe. O que há são diferentes possibilidades de raciocínio dentro de um mesmo tema. 

                No filme, Naylor age exatamente como os autores descrevem o campo da argumentação, como sendo o “do verossímil, do plausível, do provável, na medida em que este último escapa às certezas do cálculo”. Esta é a intenção: usar de idéias em que seja possível acreditar (e que sejam realmente possíveis de existir) e fazer com que o outro compre a sua idéia, seja ela verdadeira ou não.
                A idéia da evidência, citada anteriormente, volta ao longo do texto, como na página 4. No trecho “a evidência é concebida, ao mesmo tempo, como a força a qual toda mente normal tem de ceder e como sinal de verdade daquilo que se impõe por ser evidente”, mais uma vez podemos perceber que a necessidade da implantação de rótulos de veneno nos maços de cigarro não é algo evidente e visto como necessário por todos. Se Nick Naylor pode fornecer argumentos contrários a este pensamento e não se submete a esta “evidência”, a verdade plena já não existe. 

                Na mesma linha de raciocínio, outro trecho ainda diz que “a teoria da argumentação não pode se desenvolver se toda prova é concebida como redução à evidência”. O que as provas indicam são apenas novas formas de se pensar sobre o tema proposto. O que Nick Naylor procura fazer é mostrar essa teoria na prática (embora provavelmente não saiba que está fazendo isto). Ele inclusive tenta passar esta forma de pensar e a técnica de “convencimento” que possui para o seu filho, Joey. Seria como um talento que precisa ser ensinado para se perpetuar. Mas o garoto começa a aprender e a agir exatamente como seu pai, o que traz preocupação ao homem. Seria esta mesmo a melhor forma de agir? Argumentar (muitas vezes nem acreditando no que está dizendo) mesmo trazendo prejuízos para os outros e para si mesmo?

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