domingo, 24 de abril de 2011

"O segredo do sucesso é o segredo."

Estava recordando uma discussão promovida pelo professor Marildo Nercolini em sua aula de Comunicação e Cultura, onde a turma, dividida em dois grandes grupos, heterogêneos, independente de suas convicções, deviam defender um dos pontos de vista: a afirmativa de Thomas Hobbes, "o homem é o lobo do homem", e a máxima "o homem nasce bom e a sociedade o corrompe", por Jean-Jacques Rousseau.
Refleti sobre essa dinâmica ao final do filme A Vila (The Village, 2004), cuja história é sobre um grupo de pessoas que funda uma comunidade afim de afastar a violência e os crimes, que eles acreditam ser motivados pelo sistema capitalista.
Afastados de toda referência exterior, os fundadores sustentam segredos e mitos para evitar a curiosidade dos demais sobre o que pode existir além daqueles limites, proporcionando paz e segurança a partir da ignorância alheia sobre os verdadeiros fatos.
Segundo a definição de Freud, o homem civilizado é aquele capaz de sublimar seus impulsos de violência e sexualidade. A sublimação não advém da ignorância, mas sim do reconhecimento e aceitação de si e dos demais. Ao tentar esconder as referências dos outros que ali nasceram e cresceram, e mesmo lhes impondo o controle pelo medo, não conseguiram evitar que um crime acontecesse.
A personagem principal, Ivy Walker, é cega. Guiada por seus instintos, Ivy comete um assassinato, consciente do que estava fazendo, em auto defesa. Mas, ao retornar à vila, ela apenas sustenta o mito criado pelos fundadores, dando ainda mais veracidade aos fatos que os outros julgam reais.
O filme não é conclusivo e a questão que deixa no ar é a mesma questionada por Sócrates, narrada por Platão em A República, no Mito da Caverna:
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
Ao passo que Glauco responde que sim, Ivy retorna à sua comunidade, movida pelo impulso da paixão, e consciente das palavras de teu pai, que afirma que ela era a única capaz de ver a luz na escuridão, portanto poderia guiar os demais.
Por que ela não contou aos outros que tudo aquilo é uma farsa? Por que não contou ao seu pai que existem pessoas boas também, fora dos muros? Talvez fosse tida como rebelde, uma tentativa de acabar com a ordem local, promotora do caos. E talvez por isso devesse ser silenciada. Talvez, por enxergar além, criou em si um sentimento de compaixão, para preservar os outros da dor. Ou talvez, tenha planos mais ambiciosos e assim possa manipular as pessoas que não possuem seu conhecimento.
Seja como for, a vila continuará a existir nos moldes determinados, enquanto os segredos ficarem em segredo. A partir do momento em que alguém detém o conhecimento, pode agir por si mesmo.

Ass. Larissa Castanheira

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